Das críticas a Madonna no Grammy às 'trintonas', velhice é vista como inimiga - UOL

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 Jornalista, autora de "Minhas Duas Meninas", "Divas Abandonadas" e dois guias de Nova York. Foi apresentadora do programa “Saia Justa” e editora da revista Serafina. ", "image": "https://f.i.uol.com.br/fotografia/2022/03/23/1648051847623b46873949c_1648051847_1x1_xs.jpg", "sameAs": ["https://www1.folha.uol.com.br/autores/tete-ribeiro.shtml","https://www.instagram.com/ttrbr/"], "workLocation": { "@type": "Place", "name": "São Paulo" } }], "publisher": { "@type": "NewsMediaOrganization", "@id" : "https://www1.folha.uol.com.br#organization", "name": "Folha de S.Paulo", "url": "https://www1.folha.uol.com.br", "logo": { "@type": "ImageObject", "url": "https://f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/amp/logo.png", "width": 600, "height": 60 }, "ethicsPolicy": "https://temas.folha.uol.com.br/projeto-editorial-da-folha/projeto-editorial-folha-de-s-paulo/principios-editoriais.shtml", "diversityPolicy": "https://temas.folha.uol.com.br/projeto-editorial-da-folha/projeto-editorial-folha-de-s-paulo/principios-editoriais.shtml", "correctionsPolicy": "https://temas.folha.uol.com.br/folha-projeto-editorial/manual-de-redacao-conduta/erramos.shtml", "ownershipFundingInfo": "https://www1.folha.uol.com.br/institucional/", "foundingDate": "1921-02-19", "masthead": "https://www1.folha.uol.com.br/institucional/expediente.shtml", "missionCoveragePrioritiesPolicy": "https://temas.folha.uol.com.br/projeto-editorial-da-folha/projeto-editorial-folha-de-s-paulo/sua-excelencia-o-consumidor-de-noticias.shtml", "verificationFactCheckingPolicy": "https://temas.folha.uol.com.br/folha-projeto-editorial/manual-de-redacao-conduta/conduta.shtml", "unnamedSourcesPolicy": "https://temas.folha.uol.com.br/projeto-editorial-da-folha/projeto-editorial-folha-de-s-paulo/principios-editoriais.shtml", "actionableFeedbackPolicy": "https://www1.folha.uol.com.br/falecomafolha/", "diversityStaffingReport": "https://temas.folha.uol.com.br/folha-projeto-editorial/manual-de-redacao-conduta/politica-de-diversidade.shtml", "contactPoint": [{ "@type": "ContactPoint", "contactType": "Newsroom Contact", "url": "https://www1.folha.uol.com.br/falecomafolha/" },{ "@type": "ContactPoint", "contactType": "Public Engagement", "url": "https://www1.folha.uol.com.br/falecomafolha/" }] }, "publishingPrinciples": "https://temas.folha.uol.com.br/folha-projeto-editorial/manual-de-redacao-conduta/atuacao-profissional.shtml" , "isAccessibleForFree": false, "hasPart": { "@type": "WebPageElement", "isAccessibleForFree": false, "cssSelector": ".j-paywall" }, "isPartOf": { "@type": [ "CreativeWork", "Product" ], "name": "Folha de S.Paulo", "productID": "folha.uol.com.br:news" } } (window.dataLayer = window.dataLayer || []).push({ "pageType": "article", "articleId": "1757952293374784", "articlePublishTime": "2023-02-17 04:00:00Z", "articleSource": "Folha de S.Paulo", "articleType": "ReportageNewsArticle", "author": "Teté Ribeiro", "categories": "Ilustrada", "hierarchy": "/ilustrada/", "section": "Ilustrada", "mediaType": "", "characterCount": "", "wordCount": "", "paragraphCount": "", "publicationName": "Folha de S.Paulo" }) Acesse seus artigos salvos em Minha Folha, sua área personalizada

Na tragédia "Rei Lear", escrita por William Shakespeare por volta de 1605, logo no começo do primeiro ato, um personagem diz a outro: "se tu fosses o meu bobo, tio, eu te daria uma sova por teres ficado velho antes do tempo. Tu não devias ter ficado velho antes de ter ficado sábio".

Outra diferença entre o século 17 e os dias de hoje —e essa é brutal— é que havia mecanismos para compensar a decadência física, nunca considerada desejável. Os velhos eram os que tinham maior poder político e cultural. Eram repositórios de conhecimento e sabedoria.

O que se busca hoje em dia, disfarçado pelo desejo hipócrita de progresso, é dinamismo, inovação. "O que está na moda é sempre o que é novo", afirma o estilista e teórico de moda Mário Queiroz.

"A moda tem uma relação engraçada com o tempo, porque, apesar dessa busca constante pela novidade, há também um elogio do que já foi consagrado. Essas maisons tradicionais, Louis Vuitton, Chanel, Hermés, são empresas muito antigas."

Mesmo essas firmas fundadas no século 19, e que até hoje estão entre as mais valorizadas do mercado de luxo, contratam jovens estilistas para criar suas coleções. Em quase qualquer cenário, se um velho e um jovem estiverem em uma disputa, seja por trabalho, amor ou doação de um órgão, o jovem sai ganhando.

Quanto mais a ciência e a medicina avançam e conseguem manter as pessoas vivas, mais parece que os velhos perdem a razão de existir. A única posição de poder em que uma pessoa –um homem, claro– pode chegar na velhice, nos tempos atuais, é o papado. Teve um papa que assumiu aos 12 anos, é verdade, mas isso foi no século 11.

Tudo isso para dizer que a busca universal e inglória pela eterna juventude, da qual a gente não cansa de ver provas por todos os lados, principalmente nos rostos das celebridades, não quer dizer que são todas pessoas fúteis sem nada melhor para fazer.

Jogue no mix o machismo estrutural –e da natureza, que declara o fim da era fértil das mulheres 10 a 15 anos antes que a dos homens– e fica um pouco mais fácil entender por que mulheres inteligentes, interessantes e aparentemente bem resolvidas gastam fortunas e tardes inteiras passando por procedimentos dolorosos para "disfarçar" a idade quem tem.

Ou se eriçam todas se leem ou ouvem que sua faixa etária, qualquer que seja ela, está sendo mencionada, por quem quer que seja, em qualquer situação, como um sinônimo de pessoas maduras. Veja, não estou nem dizendo velhas. Maduras, como contrário de imaturas, o que pode até soar como elogio.

Foi o que aconteceu quando este jornal se referiu às fãs da boyband americana Backstreet Boys, dos anos 90, como "trintonas" e "quarentonas". Houve uma grita nas redes sociais dizendo que o texto era machista e etarista. Elegante não foi, de fato, mas também não me pareceu agressivo ou excessivamente crítico.

Anda todo o mundo à flor da pele ultimamente. Aliás, há muitas coisas diferentes acontecendo entre os nervos e as peles de diversas pessoas, sejam elas trintonas, trintões, quarentonas, quarentões e assim por diante.

Ao surgir com o rosto muito alterado no Grammy, no último dia 5, Madonna provocou uma onda de críticas e piadas na internet, e as rebateu dizendo que foi fotografada com uma câmera de lente longa que distorce a imagem, e que foi alvo do etarismo –Madonna tem 64 anos– e da misoginia.

É inegável que os dois preconceitos existem e que a cantora é vítima de ambos há bastante tempo. O mundo da música consegue ser ainda mais machista e novidadeiro que o do cinema. Já a tese da lente longa, essa ficou sem comprovação.

"A Madonna fez uma plástica muito bem-feita perto dos 50 anos, o público nem percebeu, ela ficou linda", afirma o médico. "A comunidade de cirurgiões especializados em rosto é muito pequena, todo mundo se conhece, e a informação acabou vazando no nosso meio", explica.

O problema, diz ele, é que quando surgiram os preenchedores, mais ou menos 20 anos atrás, a indústria farmacêutica jurava que eles eram totalmente absorvidos pelo organismo em 8 a 10 meses. Hoje, se sabe que o negócio não é bem assim.

"É por isso que essas celebridades vão ficando deformadas ao longo do tempo. A pessoa vai lá no dermatologista e coloca cinco ampolas de preenchedor e fica ótima. No ano seguinte, acha que está sem nada e aplica mais cinco ampolas, mas na verdade metade do produto não foi absorvido pelo corpo, continua lá, então ela fica com o equivalente a quase oito ampolas de preenchedor. No ano seguinte, se repetir o procedimento, fica com 11 ampolas. Mais um ano, 15 ampolas. Não tem como não alterar a aparência."

A nova temporada do reality show BBB, da TV Globo, trouxe, com o habitual interesse do público telespectador pelos participantes da competição, uma surpresa: eles são todos bastante parecidos. Apesar do óbvio esforço da emissora por trazer para seus elencos, sejam de novelas ou de telejornais, brasileiros de todas as cores e formas, os executivos da emissora não contavam com o enorme poder de sedução das palavras harmonização e facial.

O procedimento, uma combinação de injeções de botox para paralisar as partes do rosto em que a pele faz rugas de expressão e preenchimentos à base de ácido hialurônico onde há perda muscular, serve para dar "harmonia" ao rosto, um conceito bastante subjetivo que parece ter sido traduzido no inconsciente coletivo como um rosto oval e com maçãs elevadas para as mulheres e angulosos, com queixos quadrados para os homens.

"A gente começa a receber pessoas inseguras com a própria aparência na adolescência", disse o cirurgião plástico. "As queixas mais frequentes entre os pacientes dessa faixa etária estão relacionadas aos tamanhos do nariz e dos seios".

"Com o passar dos anos a preocupação é envelhecer bem, o que me parece uma coisa intrínseca do ser humano", diz o cirurgião. "E nosso rosto e nosso pescoço são nossos cartões de visita. Não por acaso, as tecnologias que mais evoluíram foram as de cirurgia de rosto e pescoço. Os procedimentos não cirúrgicos para rosto e pescoço também evoluíram muitos nos últimos 20 anos."

Segundo o médico, toda vez que surge uma tecnologia nova, há uma tendência ao exagero, mas com o tempo as coisas vão voltando para o equilíbrio. Uma prova? A humorista e influenciadora Gkay, de 30 anos, cujas festas de aniversário duram vários dias e são batizadas de "farofa da Gkay".

A paraibana de Solânea já preencheu e retirou o preenchimento dos lábios, harmonizou e desarmonizou a face, ou, mais especificamente, injetou uma enzima chamada hialuronidase na parte superior das maçãs do rosto para destruir as moléculas do ácido injetado.

A atriz e diretora Mika Lins, de 57 anos declarados espontaneamente, conta que nunca fez nada no rosto, nenhum procedimento experimental. Nem o cabelo, que mantém curto, ela pinta. "O que não quer dizer que eu nunca vou fazer nada", alerta.

No dia 18 de janeiro deste ano, postou uma foto sua em preto e branco no Instagram com um desabafo contra a irritação que sentia quando tentava encontrar uma boa imagem sua, atual e verdadeira. "Só me sentia confortável com as fotos em que eu parecia mais jovem", disse ela a este jornal.

"Isso me deu uma angústia muito grande, imaginar que a gente vai ter cada vez mais tempo de vida e vai olhar todo dia para o espelho e entrar numa luta contra o inevitável, uma luta que todo mundo vai perder."

Decidiu postar uma foto de que não gostava e falar sobre isso. "A gente fica inventando um monte de mentiras para disfarçar que quer parecer mais jovem. Esse termo _ageless’ é isso, né? Um jeito bobo e americanizado de enquadrar as mulheres mais uma vez", afirma. "E as que se dizem _ageless’ são as que mais fazem qualquer coisa para parecer mais jovens. Então é tudo fake."

A atriz Patrícia Pillar, de 59 anos, foi uma das que aderiu à campanha. Mas o que mais surpreendeu Mika foi a enorme quantidade de homens e de mulheres na casa dos 30 anos que mandaram foto. "Se as pessoas começam a se sentir velhas aos 30 anos vão passar muitos e muitos anos se sentindo velhas".

"A indústria da beleza é infinitamente mais poderosa que a da moda", diz Mario Queiroz. "E hoje em dia olha-se muito mais para uma influencer digital que foi convidada para a primeira fila de um desfile de moda do que para o que a modelo está desfilando."

Mas ele vê uma possibilidade de mudança de atitude no futuro. "A vanguarda da moda está começando a apontar novos ares", afirma. "Os jovens estilistas mais interessantes apresentam suas coleções com o que parece ser uma antibeleza, pessoas muito fora dos padrões a que estamos acostumados vestindo roupas também muito diferentes."

Até que esse dia chegue e essa utopia se torne realidade, há uma esperança para as mulheres que tem, sim, uma idade, e que essa idade não começa com o dígito 2: o cantor inglês Harry Styles, eternamente fascinado por mulheres mais velhas.

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