E foi ministrada a primeira aula em metaverso! Agora vai! - Consultor Jurídico
E foi ministrada a primeira aula em metaverso! Agora vai! Consultor Jurídico
Há dias escrevi sobre um evento de Mato Grosso em que se dizia, na reportagem do jornal, que avatares de juízes, advogados, universitários e comunicadores flutuavam pelo saguão de palestras. Lindo isso.
Mas agora o ensino jurídico entra nessa. Claro. Como o ensino jurídico — que vai tão bem no Brasil — poderia ficar de fora desse novo "paradigma" (sic)? A reportagem mostra o avatar abaixo
A aula teria sido de direito penal. Bom, não briguem com o mensageiro. O jornal publicou.
Minha pergunta no que o metaverso pode melhorar o combalido ensino? Ou isso é só para "lacrar"?
Um país em que o ensino jurídico produz alunos e bacharéis que odeiam a Constituição, no que um avatar ajuda?
E em um país em que parcela considerável da comunidade jurídica diz que "existem direitos demais". Já escrevi sobre isso aqui na ConJur e há elementos que apontam para o percentual de 60%. Fossem médicos e rejeitariam antibióticos.
Pelo metaverso, o professor fica escondido atrás do avatar? O avatar faz algo de diferente do que diz o professor? Um velho PowerPoint não faz o mesmo trabalho?
Por que temos essa necessidade de transformar tudo em espetáculo? O repórter não consegue falar da enchente sem estar dentro... da água. O pão vai amentar... e lá está o repórter vestido de padeiro. Agora juízes querem desenhar as sentenças com visual law. E professores pós modernos agora querem tornar as aulas atrativas. Pois é. Tik, tok...!
Tudo isso mais parece uma cortina de fumaça. Apenas a ponta do iceberg. Visual law e, agora, metaverso e quejandos, são as coisas que excitam boa parte da comunidade jurídica. Eis o "novo". Lá vem o "novo". Vamos todos aderir. Vamos desenhar as sentenças. Vamos ministrar as aulas por metaverso. Agora vai! Legal design para que se "possa melhor entender, de forma facilitada, o direito". Por aí. Legal! Leio também que nas redes circulam "mentores" de advocacia. Tem um que dá curso de como ser mentor. Genial. O Brasil se supera a cada dia. Logo aparecerão empresas como a que contratou a carreira de Gusttavo Lima... para gerir a carreira de advogados. Ups. Dei a ideia.
Enquanto isso... que tal deixarmos a ficção e os avatares de lado e olhar para o que acontece no direito? Lembro que, em 1991, em congresso no Rio de Janeiro, eu fazia uma metaforização do direito e da ficção do combate ao crime na cidade, que agora pode ser estendida à nossa pós modernidade (sic) avatarística. Dizia eu
" O professor está na sala de aula ensinando direito penal [que coincidência, não? Hoje é com avatar]; lá fora ocorre um tiroteio que dura minutos; e o professor não perde a fleuma continua a ensinar o conceito de rixa, dizendo aos alunos "rixa exige o 'dolus rixandi'".
O cometa está aí e os avatares ensinam direito. E os embargos... Ah, os embargos...!
O Brasil não consegue se olhar no espelho, mesmo.
Num país que nunca aprendeu conceitos básicos como o de princípio, de positivismo jurídico, que fala sobre Kelsen em 30 segundos chamando o de exegeta, que não sabe (porque não se ensina) a diferença entre direito moral (para ser generoso na crítica), agora querem superar essa (de)formação capenga com robozinhos e atalhos anti epistêmicos. E metaverso. Imitando o que fazem os bancos e as empresas.
Como se o judiciário fornecesse "produtos". E como se o ensino jurídico fosse mercadoria.
Em breve um avatar atenderá o advogado, enquanto o juiz estará na sua casa ou no seu gabinete; e o robô do WhatsApp fará a audiência despacho do pobre do causídico.
"Aqui é o assistente virtual Dr. Legal. Digite sua opção.... Desculpe, não entendi sua solicitação. Digite 1, 2 ou 3..."
Já não haverá congressos de direito; haverá feiras de tecnologia. Com avatares flutuando. E, quem sabe, com duplas sertanejas. Gusttavo Lima pago por prefeituras — eis uma boa sugestão!
Eis o "novo". Lá vem o "novo", como denunciava Brecht, o Bertoldo. Saudemos o Deus ex machina.
Lenio Luiz Streck é jurista, professor de Direito Constitucional, pós doutor em Direito e sócio do escritório Streck e Trindade Advogados Associados.
O ESCUDEIRO JURÍDICO (Cartorário) 3 de junho de 2022, 15h06
O Metaverso é um espaço virtual repleto de conteúdos digitais onde se tenta replicar o mundo objetivo através da construção de uma nova subjetividade humana. O Metaverso é um novo desenvolvimento de programação de computadores, uso de algoritmos, realidade aumentada, inteligência artificial, big data, processamento de metadados em tempo real, interação de avatar, lógica sequencial e escalada dos jogo de vídeo. Uma guinada de 180 graus na forma como interagimos com o virtual. Até agora, o virtual significava uma desterritorialização das relações humanas, como a que realizamos nas redes sociais, através do estabelecer de vínculos, interações, diálogos e formação de grupos constituídos por afinidades e não por pertença a lugares específicos (https www.esquerda.net artigo metaverso o mecanismo de reproducao do sistema capitalista 78903).O Metaverso resulta de uma nova dimensão do Capitalismo, que não hesita em aceitar inovações no sentido de sua expansão.Aqueles que não se adaptarem ficarão em outro...mundo.
Rejane G. Amarante (Advogado Autônomo Criminal) 3 de junho de 2022, 8h42
Como o senhor mesmo disse que não se deve dar as costas a nenhuma oportunidade, aproveito esta oportunidade de debater com alguém que conhece e usa essa nova tecnologia que aí está para fazer algumas ponderações. De início, essa tecnologia foi, na verdade, imposta sem consulta a setores relevantes que iriam utilizá la e aplicar a questões ainda mais relevantes como processos judiciais, diagnósticos médicos, etc. Eu tive que pesquisar muito sozinha porque os poucos cursos disponíveis ensinavam a técnica, que não é o foco de quem atua na área jurídica. Antes de começar um breve resumo sobre minhas pesquisas, respondendo ao seu argumento sobre as gerações que se sucedem desde os anos noventa, o senhor falou apenas de uma minoria que cresceu e estudou com acesso à tecnologia, esta não é a realidade para milhões de jovens brasileiros. Ainda que fossem a maioria, nada obsta que, se forem comprovados aspectos nocivos dessa tecnologia, seja contida ou mesmo eliminada nas gerações subsequentes, portanto, discordo, por assim dizer, do seu argumento do fato consumado . Num breve resumo de minhas pesquisas no farto material que existe na internet, a primeira perplexidade é de tratar se de uma tecnologia (a base, os fundmentos) que existia desde o século XVIII, e era amplamente utilizada em várias cidades de diferentes países no século XIX, inclusive no Rio de Janeiro e em São Paulo. Refiro me à energia elétrica sem fio, retirada do eletromagnetismo deste planeta. Houve muito acobertamento, muita fraude e muito enriquecimento ilícito. Os detentores do Poder, essencialmente econômico, literalmente hipnotizaram a maioria das pessoas. É por aí que muitos, assim como eu, pesquisam e têm muita cautela com essas novas tecnologias.
Raphael Rios Chaia (Professor Universitário Internet e Tecnologia) 3 de junho de 2022, 19h58
Não sei se posso concordar com a colocação de que a tecnologia do Metaverso foi “imposta”, até porque a) ela é absolutamente nova, comparando se ao que tínhamos na internet em 1995, e b) ela ainda depende da superação de algumas barreiras para uma adoção em larga escala satisfatória.Vou dar um exemplo simples para entender melhor essa questão a internet móvel.A internet móvel já existia em 2001, 2002, mas era absolutamente insipiente. Não “colava”. Foi preciso uma revolução na mobilidade em 2007, com o lançamento do iPhone, que aí sim impôs uma mudança no mercado de telefonia móvel, para que a internet no celular e os smartphones (antes produtos de nicho e caríssimos) começassem a se popularizar. Hoje, 2022, já notamos que mais da metade dos brasileiros acessam a internet exclusivamente pelo celular.Com o Metaverso vamos trilhar ainda um caminho bem parecido mas provavelmente não tão longo. Será preciso popularizar os equipamentos de VR, torná los acessíveis (como smartphones assim se tornaram), melhorar a qualidade da Internet, garantir maior cobertura de acesso, garantir acessibilidade a portadores de necessidades especiais, e ainda assim, termos a consciência de que estaremos diante de um processo de adoção que ocorrerá ao longo de alguns ANOS, até que um novo paradigma de acesso ao ambiente digital se consolide. Estamos apenas dando os primeiros passos e começando a explorar o potencial dessa tecnologia há muito a se fazer e desenvolver ainda (tecnologias hápticas, baterias mais eficientes, sensores mais precisos, evolução das inteligências artificiais de autoaprendizado, etc.)
Rejane G. Amarante (Advogado Autônomo Criminal) 4 de junho de 2022, 7h42
Esclarecendo o que pretendi dizer com o termo imposto , fiz um paralelo com o que ocorreu com o processo eletrônico, que não foi debatido com a comunidade jurídica, nem com a sociedade, e o mesmo ocorre nesse momento com o uso da inteligência artificial no Poder Judiciário somos mal informados sobre o funcionamento. O termo imposto tem ainda maior relevância quando se observa a pouca ou nenhuma regulamentação por lei ordinária, esclarecendo ou melhor fixando os conceitos jurídicos das novas tecnologias e especificando responsabilidades em suma, a regulamentação da ética nessa atividade, assim como a função pública. O senhor diz que o metaverso não foi imposto e eu digo que logo logo será utilizado nos processos judiciais com pouca ou nenhuma regulamentação muito menos debates entre os vários setores da comunidade jurídica (magistratura, ministério público, polícias, advogados, serventuários, etc.) e muito menos debates com a sociedade. É só uma questão de (pouco) tempo.
Prof. Demetrius Ramos (Professor) 3 de junho de 2022, 2h00
Grande mestre Lênio.Mese atrás um aluno de tributário me abordou afirmando a dificuldade da turma em entender o conteúdo da disciplina, pois não utilizava desenhos em sala de aula.Passei a desenhar uma flor antes de começar a aula, pois é o único ao qual tenho o mínimo de talento para representar, e seguia com o conteúdo.Vida que segue...
Comentários encerrados em 10 06 2022.A seção de comentários de cada texto é encerrada 7 dias após a data da sua publicação.
Google News
E foi ministrada a primeira aula em metaverso! Agora vai! - Consultor Jurídico
"A estupidez é um inimigo mais perigoso do bem do que o mal" - Consultor Jurídico
O MP e o divã: "quem sou " "Ou tenho os pés de Curupira " - Consultor Jurídico
ConJur - Bernardes e Calza: Inclusão digital e desafios na rede ... - Consultor Jurídico
STJ suspende decisão que autorizou show de Gusttavo Lima em ... - Consultor Jurídico
ESG, transformação digital e metaverso: cursos para executivos ... - Estadão
Simpósio comemora os 50 anos da Unimed Federação/RS - Jornal O Sul - Jornal O Sul
Parque Tecnológico de Sorocaba comemora 10 anos com palestras ... - Prefeitura de Sorocaba
Edição 2022 do Sebrae Startup Day será no próximo sábado - Tribuna Hoje